quarta-feira, 23 de abril de 2014

[Filme/Documentário] 'Searching for Sugar Man' (2012)


Sixto Rodriguez, o homem que merece ter o mundo a seus pés.
A história de Sixto Rodriguez, talentoso músico que andou ‘perdido’ durante anos pelas ruas de Detroit, é daquelas que tem tudo para dar um filme. Neste caso deu em documentário.

Malik Bendjelloul, o realizador sueco que foi premiado com o Oscar de Melhor Documentário em 2013, pegou na maravilhosa história de vida de Sixto Rodriguez e acabou por dar (mais um) novo rumo à vida do americano.

Ídolo em meia parte do Mundo e desconhecido noutra, o “Sugar Man” (um dos nomes pelo qual é conhecido, devido a uma das suas músicas) é um caso raro, como conta o sul-africano Stephen Segerman, um dos seus mais fiéis admiradores.

Nasceu em Detroit mas foi na África do Sul, em pleno apartheid, que se tornou ídolo de uma geração. Nas ruas daquele país africano, Rodriguez era mais conhecido que os Beatles e tanto ou mais admirado que Elvis. Eram os seus discos que serviam de mote para muitas manifestações, principalmente junto da comunidade jovem. Num país fechado para o Mundo, viviam os maiores (e praticamente únicos) fãs do músico que trabalhava nas obras em Detroit, como conta o próprio.


Rodriguez é fascinante devido a uma curiosa e explosiva mistura: é um excepcional músico (os seus dois álbuns falam por si); é humilde sem deixar de reconhecer que tem talento; foi toda a vida um trabalhador e lutador, daqueles que fazem os trabalhos duros que ninguém quer fazer; existe um mistério enorme à volta da sua pessoa.

Sixto nunca enriqueceu com os milhares de discos vendidos na África do Sul, nunca soube, até ter recebido um telefonema de Stephen Segerman, que era um ídolo naquele longínquo país. E o mesmo se sucedia com os seus fãs sul africanos: ninguém sabia de Sixto, e a grande maioria pensava que este se tinha suicidado enquanto dava um concerto na América.
Resolvido o mistério para ambas as partes, o “Sugar Man” deu vários concertos (esgotados) na África do Sul e ganhou reconhecimento noutros países. 


Para o espectador chega a ser frustrante ver como tudo podia perfeitamente ter levado outro rumo na vida do americano de Detroit. Como Sixto podia ter sido um dos mais bem sucedidos cantautores de sempre, na linha de Bob Dylan (como aliás é estrondosamente semelhante vocalmente), como podia ter uma enorme legião de fãs, como podia ser um ídolo mundial e não apenas um ídolo nacional sul africano. A história mudou a partir do momento em que Sixto soube da sua popularidade em África, mas a verdade é que parece que a corrente mudou demasiado tarde. Mesmo hoje, Rodriguez não é uma estrela, continua a viver no seu pequeno apartamento em Detroit e ainda é um homem simples e da terra onde nasceu. Sempre será. Talvez alguns homens não precisem de ser estrelas.

PS: Sixto Rodriguez lançou dois albuns completos (soube a pouco, o seu talento pedia muito mais). Fica aqui o seu primeiro, Cold Fact (lançado em 1970). O seu segundo e último álbum (Coming from Reality) foi lançado no ano seguinte.


(8/10 para o documentário. 10 em 10 para Sixto)

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