sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

[Música] Short-Stories do Primavera Sound Festival

Short-Stories do Primavera Sound Festival
Warpaint, Temples, The War on Drugs & Moderat

Começo por dizer que foi muito difícil escolher três ou quatro bandas sobre as quais falar dentro do inacreditável cartaz do Primavera Sound Festival 2014, que terá lugar a 29, 30 e 31 de Maio em Barcelona. Decidi, à partida, deixar de lado os nomes mais sonantes como Arcade Fire, Queens of the Stone Age, The National, Nine Inch Nails and so on, centrando-me nas bandas mais recentes e que ainda “frescas”, sentem necessidade de vir acrescentar algo de novo à cena musical; nas bandas que estão na fase do “arriscar” por não terem nada a perder. Não quero dizer, com isto, que as bandas mais experientes do festival já não arrisquem ou já não inovem, mas há aqui uma sede diferente. Do que sobrou, atirei ao ar e saíram estas.

Muitas vezes, quando oiço o terceiro, quarto, quinto álbum de uma banda, dou por mim a pensar como gostava que todos os álbuns fossem como o seu primeiro, quando a sua música espelhava a falta receio, a vontade de arriscar, a necessidade de acrescentar algo de novo e de se provarem como uma força a ser reconhecida. Deparamo-nos, normalmente, com três tipos de fenómenos.
No primeiro, a banda fica conhecida por ter uma certa sonoridade com a qual teve imenso sucesso e acaba por vir bater na mesma tecla, uma e outra vez, por saber que essa fórmula resulta, mas perdendo todo o elemento surpresa ou até mesmo qualquer faceta criativa. No segundo, tudo o que a banda tinha para dizer ficou dito no primeiro ou segundo álbum, já não há nada a acrescentar e o que sobra é uma tentativa frustrada de continuar a falar sem se ter nada para dizer – fenómeno Arctic Monkeys: já sei que vou ferir susceptibilidades, mas o Alex anda mais preocupado em parecer o James Dean do que em fazer boa música e o resultado é falta de qualidade. Não só perderam o que tinham de melhor: a bateria – deve ter desaparecido porque deixei de a ouvir – como não existe réstia de originalidade no AM e mais valia estarem quietos. Acreditem, eu gosto bastante de Arctic Monkeys, mas isto no tempo de Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006) e de Favourite Worst Nightmare (2007), quando podiam não ser génios musicais, mas ainda acrescentavam algo de novo com a sua música. No terceiro tipo, a banda encontra de facto a sua voz e consegue continuar a lançar álbuns consistentes, inovadores e cheios de vontade de arriscar e enveredar por caminhos novos, em alguns casos mesmo ao fim de décadas – e disto são exemplos muitos dos cabeça de cartaz deste festival. É nisso que o Primavera se destaca, tanto em Barcelona como no Porto, assim como o festival Vodafone Paredes de Coura na Praia Fluvial do Tabuão: ambos apostam constantemente em bandas inovadoras, umas mais conhecidas que outras, não querendo saber se são mais ou menos comerciais, desde que venham acrescentar algo ao cartaz, desde que sejam diferentes e criativas.

No caso de Warpaint, Temples, The War on drugs, Moderat - bandas nas quais me foco hoje - não vamos tentar prever se vieram mesmo para ficar ou como serão os próximos álbuns, se vão eventualmente cair na primeira, segunda ou terceira categoria. Vamos apenas olhar para elas como bandas criativas que se esforçam por fazer boa música e que chegam cheias de força, fazendo delas algumas das grandes apostas do Primavera Sound Festival 2014.


Warpaint

As Warpaint são um quarteto feminino de Los Angeles, Califórnia, que lança o seu primeiro EP, Exquisite Corpse, em 2008 e o seu primeiro álbum, The Fool, em 2010. Este tem grande aclamação crítica, dando imediatamente estatuto à banda pelo seu rock atmosférico centrado na bateria (inicialmente Shannyn Sossanon e mais tarde Stella Mozgawa) – destaco Set Your Arms Down - e no baixo (Jenny Lee Lindberg). São também de destacar os vocais e guitarra (que chegam até nós, ambos, pelas mãos e vozes de Emily Kokal e Theresa Wayman). As letras deste primeiro álbum centram-se constantemente no sexo oposto e na sua relação com o mesmo (ou a falta dela) – tanto Undertow, o primeiro single do álbum, como Shadows, Composure (onde ficamos logo hipnotizados pelos back vocals assim que a música começa) ou Baby (a música mais melódica do álbum) são exemplos claros disto. Aqui os vocais aliciantes são a linha condutora, num estilo muito introvertido e tímido. Mas não se iludam, esta não é uma banda de rapariguinhas tontas e apaixonadas que nos trazem música sem significado e com o mesmo riff de guitarra em modo loop durante 20 minutos. Esta é uma banda que nos transporta para uma realidade paralela etérea e nostálgica, que nos faz sentir bem e confortáveis, tão simples quanto isso.
Dito isto, passaram-se mais de 3 anos até ao lançamento do segundo álbum, o homónimo Warpaint e a expectativa era muita. O resultado é, sem dúvida, um álbum consistente e que vem acrescentar, não repetir. O baixo ganha ainda mais relevância e a atmosfera geral é mais leve, muitos fazem referência à influência do trip-hop. Este é um álbum diferente que perde ou ganha, dependendo da perspectiva, mas que sem dúvida evolui – não há uma agressividade tão grande nas músicas e a introspecção é ainda maior, o minimalismo ganha peso, assim como os sintetizadores (esta parece ser uma escolha geral recentemente – criatividade ou moda?). Destaco o single Love is to Die, que foi bastante aclamado, e Hi, ambas músicas que incorporam a essência do álbum. Já um pouco fora do ambiente criado em Warpaint, aparece Disco//Very, que destaco por dar complexidade ao álbum e apimentar um bocado as coisas.
Esta é uma banda relativamente recente e que ainda só possui dois álbuns no seu repertório, mas que já nos trouxe várias coisas diferentes e interessantes, estou curiosa em que apostarão a seguir. Uma coisa é certa, boa aposta para o cartaz.

Warpaint - Disco//Very


Temples

Cada vez que oiço Temples só consigo sorrir e sentir-me bem-disposta. A banda britânica de rock psicadélico, formada em 2012, é frequentemente associada aos australianos Tame Impala e aos, também australianos, Pond. E tenho que fazer aqui uma pequena nota e perguntar, o que se passa com estas pessoas e o cabelo encaracolado gigante? É o vocalista dos Temples, é o guitarrista/baixista dos Pond, é o vocalista dos Wolfmother, será que fazem parte de uma irmandade secreta? Também posso?
Anyway, em 2013 os Temples lançam o seu álbum de estreia Sun Structures com críticas bastante positivas conseguindo, até, os elogios de Johnny Marr e Noel Gallagher (o segundo surpreendeu-me bastante, já que os únicos elogios que normalmente faz são à sua pessoa e ao facto dos Oasis serem, segundo defende, a melhor banda desde os Beatles). Mas voltanto aos Temples, tanto a banda em si, como as suas músicas, têm uma energia muito positiva e todo o álbum é uma celebração da vida e do espírito. A música Ankh remete-nos para o símbolo egípcio alusivo à vida eterna e na primeira música do álbum, Shelter Song, James Bagshaw (vocais e guitarra) canta-nos “Take me away to the Twilight Zone”, para que estejamos cientes do que nos vamos meter ao ouvir o resto do álbum.
Os ritmos psicadélicos e dançáveis estão presentes em todo o álbum e a presença da bateria e do teclado são óbvios, assim como dos sintetizadores (mais uma vez). Destaco a Keep in the Dark, uma das pérolas do álbum, assim como a Colours to Life.
Há no álbum uma homenagem aos anos 60 e aos tempos do Woodstock que merece ir sendo relembrado não só por quem lá esteve, mas pelas bandas que vão aparecendo e é nesse sentido que, me parece, aparecem músicas como a Test of Time.
Todas estas novas bandas – Temples, Tame Impala, Pond – têm relevância na cena musical actual e são importantes pois vêm revitalizar e reforçar o género do rock psicadélico que não só traz alegria à nossa vida como também, imagino, aumenta a venda de ácidos.

Temples - Keep in the Dark


The War on Drugs

The War on Drugs é uma banda americana de indie rock, com fortes influências de folk, formada em 2005 e que tem já sob a sua tutela dois álbuns Wagonwheel Blues (2008) e Slave Ambient (2011); o terceiro, Lost in the Dream, deverá ser lançado a 18 de Março deste ano. A banda foi formada por dois fãs de Bob Dylan - Adam Granduciel e Kurt Vile (que entretanto deixou a banda) - e essa influência está bem presente em ambos os álbuns.
Como não podia deixar de ser numa banda inspirada por Dylan, estão presentes as guitarras tanto acústicas como eléctricas, o teclado e a harmónica. Até a voz de Granduciel (vocalista da banda) nos remete para a voz e para o tom de Dylan, mas em jeito de homenagem, não te imitação – as músicas da banda assentam numa base muito própria e indiscutível. Destaco aqui a música Brothers, do segundo álbum da banda, onde se compreende bem o que acabei de apontar.
                Ambos os álbuns nos fazem sentir como se estivéssemos numa constante “road-trip” com as janelas do carro abertas e o sol e o vento a baterem-nos na cara, fazendo-nos, ao mesmo tempo, pensar em temas nos quais não pensaríamos normalmente (mais uma vez, uma característica também presente no estilo de música de Dylan) – “And your god is only a catapult waiting for the right time to let you go / Into the unknown / Just to watch you hold your breath / Yeah and surrender your fortress / And your thoughts will tumble like rocks do / Over the valleys of factory oceans”, Arms Like Boulders.
                Há em The War on Drugs uma honestidade que não existe noutras bandas, pelo elemento do “singer songwriter” e do interesse puro pela música e pelas letras, sem grandes floreados nem distorções electrónicas. O seu objectivo não são as massas ou a comercialização, mas sim a defesa das suas ideias, tão bem demarcadas nas suas letras – “they’d arranged for the bitter man to take them away / fell in line with the racketeers / from head to toe”, Comin’ Through.
                Do novo álbum já temos o primeiro single, Red Eyes, onde somos imediatamente confrontados com tudo o que a banda representa: indie rock, folk, road-trip, guitarras, honestidade e ideias fortes. Venha Março e venha o álbum.

The War on Drugs - Red Eyes


                Moderat

                Tenho que admitir que os Moderat não deviam estar aqui, porque de “fresco” não têm muito, são músicos bastante experientes e é um projecto que existe desde 2002. MAS, não podia não ter Moderat na minha lista e para além disso, o primeiro álbum só foi lançado em 2009 e isso conta como recente...?
                Os Moderat, mais do que uma banda, são uma colaboração -  alemã -, que começou em Berlim, entre o Sascha Ring (mais conhecido como Apparat) e o Gernot Bronsert e o Sebastian Szary (mais conhecidos como Modeselektor). Daí o nome, Modeselektor + Apparat = Moderat. E deixem-me que vos diga, os alemães sabem o que andam a fazer e são bastante criativos.
                Em todos estes projectos o género é o electrónico e o uso de sintetizadores é levado ao extremo, mas existem diferenças. O Apparat, como projecto a solo, está mais virado para o ambient e é muito mais melódico; segundo o mesmo, cada vez está mais “interessado em criar sons e não batidas”. Já os Modeselektor, têm um som muito mais agressivo e virado para o techno, onde as batidas são mesmo o essencial. Outra diferença fulcral é que o Apparat usa, normalmente, voz; os Modeselektor não.
                Estes são três indivíduos com bastante talento e criatividade, com mérito próprio tanto individualmente como em grupo. No entanto, na minha opinião, dos três projectos, o melhor é mesmo Moderat, pois existe um equilíbrio na sonoridade que só consegue ser alcançado pelos três. Para além disso, vejo e oiço nos álbuns de Moderat, o primeiro homónimo, de 2009, e o segundo “II”, de 2013, uma mensagem muito mais nítida do que nos projectos individuais. Disso são claros exemplos “Rusty Nails”, do primeiro e “Let in the Light” e “Damage Done” do segundo. E para finalizar, tenho que destacar a “Versions”, por ser um marco essencial do repertório dos Moderat.
                São músicas que mexem com os nossos sentimentos e que despertam em nós as mais íntimas certezas. Este é um dos meus projectos preferidos e aguardo ansiosamente qualquer novo EP ou álbum e, sem dúvida, aguardo ansiosamente o concerto dia 29 de Maio.

Moderat - Versions

Isto é só a ponta do iceberg, podia continuar indefinidamente pois, para além destas, existem dezenas de bandas para as quais deveríamos olhar dentro do grande cartaz do Primavera Sound. Temos no cartaz um pouco de tudo – géneros de música diferentes, amplitudes diferentes, níveis diferentes de experiência, há de tudo um pouco. Aquilo que têm em comum? Qualidade, criatividade, sede pela inovação e amor pela música, tanto entre as bandas como entre o público. Este é um grande festival, que fez grandes apostas em grandes bandas.



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

[Filme] Jack Ryan: Agente Sombra (2014)



Jack Ryan, outrora uma saga de sucesso em Hollywood nos anos 90, com os famosos filmes Caça ao Outubro Vermelho e Jogos de Poder, é a mais recente vítima do fenómeno Reboot que se instalou na indústria cinematográfica nos últimos anos.

Nesta nova adaptação, um dos acontecimentos mais chocantes dos últimos anos, o 11 de Setembro, acompanha a evolução deste agente secreto até à actualidade. Disfarçado como um corrector da Bolsa e influenciado fortemente pela CIA, Jack Ryan tem de encontrar movimentos monetários irregulares no mercado das acções. Ryan descobre uma transacção suspeita que leva à descoberta de um ataque terrorista iminente.

Aproveitando a ideologia da guerra fria, a eterna disputa entre o Capitalismo e o Comunismo, a narrativa tira proveito da grande tensão que existia entre as duas super-potências e cria um enredo previsível que mais uma vez, mantém a tendência dos Russos como os maus da fita em Hollywood. 

Lê a crítica completa no Espalha-Factos: "Jack Ryan: Agente Sombra – O típico filme de acção"

6,5/10


domingo, 9 de fevereiro de 2014

[Filme] The Game (1997)


Dois anos após o lançamento de Se7en, David Fincher volta a pregar-nos às cadeiras com o mirabolante The Game (O Jogo). Tal como é costume neste realizador, somos apresentados a um mundo que desafia a nossa sanidade mental e nos deixa sem fôlego à medida que a realidade vai ficando cada vez mais distorcida. 

Nicholas Van Orton, é um milionário atormentado pela solidão. Quando completa 48 anos, o seu irmão Conrad ,(Sean Penn) decide trazer um pouco de luxúria e animação, oferecendo um cartão de uma empresa - Consumer Recreation Services - que organiza um jogo obscuro criado à medida dos participantes e que não tem qualquer tipo de regras. Céptico e sem saber onde se estava a meter, Nicholas decide entrar neste jogo doentio e vê a sua vida pacata, a ser invadida com fenómenos estranhos e um pouco macabros. Sem conseguir distinguir o que é real do que é ficção, Nicholas vê-se preso num esquema que controla tudo e todos.


Fincher capta a nossa atenção logo nos primeiros dez minutos do filme ao acelerar a história para o ponto principal. Esta estratégia impede que o espectador desvie o olhar do ecrã durante uns breves segundos porque pode perder informação crucial para entender o enredo. 
Tal como Nicholas, nós também somos engolidos naquele misto de realidade e ficção, e a nossa mente começa-nos a pregar algumas partidas. Será que aquela cena foi real? Ou foi só um sonho? 
Sem conseguirmos distinguir a validade e a lógica das coisas, damos por nós presos no Jogo e temos de ir juntando as peças para perceber como é que se pode invalidar este esquema tal como o personagem principal do filme.

Este sentimento de incerteza que, aos poucos, vai invadindo a mente do espectador, é agravado e explorado pela actuação surpreendente de Michael Douglas. Calmo por natureza e um pouco fora do seu domínio, Douglas surpreende no papel do milionário e alcança o papel de uma carreira. A sanidade mental do actor é fortemente posta à prova e isso permite alcançar várias camadas psicológicas do personagem: ironia, desespero, medo e a violência. À medida que o Jogo avança, Nicholas sofre uma grande transformação.

Tal como já é habitual, David Fincher opta por uma realização brilhante que foca o plano no personagem principal e dá ênfase a pequenos pormenores que existem no background, proporcionando a ideia de desordem e que um determinado objecto vai ter de ser utilizado mais a frente no Jogo. É uma estratégia simples mas que funciona na perfeição porque, após uma segunda visualização, percebemos detalhes que nos podiam ter ajudado a resolver o quebra-cabeças.
A música de Howard Shore (conhecido pela fantástica banda sonora da trilogia Senhor dos Anéis e vencedor de três Óscares) é subtil, confusa e só serve para nos desorientar ainda mais a cabeça. Sempre inquietante, acompanha o desenrolar dos acontecimentos e ajuda a instaurar o pânico nos momentos mais importantes.

Esta é uma longa-metragem que passa ao lado de muita gente - por ser um dos trabalhos iniciais do realizador - mas que merece a vossa atenção e acaba por ser surpreendente. É um thriller mais que recomendado.
Posto isto, desafio-vos a entrarem na mente preversa de David Fincher e a experimentarem este cenário paranóico...

9/10

sábado, 1 de fevereiro de 2014

[Filme] Dallas Buyers Club (2013)


Matthew McConaughey nem sempre teve a crítica (e o público) do seu lado, e a verdade é que nunca fez muito para contrariar isso. Assinava papéis em filmes de segunda ou terceira linha (estou a ser simpático?) e pouco mais se via dele. Agora, numa espécie de contra-corrente, Matthew tem invertido o rumo à sua carreira e 2013 (embora a inversão de marcha venha já desde 2011) parece ter confirmado uma nova tendência na vida do rapaz de Texas. A entrada num dos filmes do ano (The Wolf of Wall Street) e o papel principal em Dallas Buyers Club são exemplos de que McConaughey deixou de brincar às comédias românticas e passou a querer afirmar-se como um dos principais actores da actualidade (o Globo de Ouro e a nomeação para um Oscar falam por si). Vamos então ao filme.

Dallas Buyers Club, traz Matthew McConaughey como nunca o vimos antes, com uma perda de peso que faz lembrar o que Christian Bale passou em The Machinist, de 2004.
A acentuada mudança corporal é necessária para dar um maior realismo ao filme, pois Ron Woodroof (Matthew McConaughey) é um doente de SIDA que leva uma vida boémia, com explosivas misturas de álcool, sexo e drogas. Quando descobre a sua doença (conhecida na altura, em '85, como a doença dos faggots) o seu estilo de vida começa a pouco e pouco a mudar e a transformação da personagem é acentuada. O cowboy homofóbico passa a conviver regularmente com homossexuais, sendo que Rayon, um transsexual (protagonizado/a por Jared Leto), acaba por se tornar no grande parceiro de vida e de negócios de Ron.
Ron Woodroof, insatisfeito com os medicamentos receitados pelos médicos, vai ele mesmo à procura de soluções, e desde o México à Ásia luta por medicamentos que realmente ajudem os pacientes de SIDA, ao invés de apenas destruirem o organismo dos doentes. Começa assim a batalha entre Ron, que funda o clube que dá nome ao filme, e a FDA, que não quer permitir que Woodroof ganhe dinheiro com medicação alternativa à dada nos hospitais.


A grande prestação da dupla central - Matthew e Leto - leva o filme às costas. Entre a luta contra o sistema e a relação entre os dois está o ponto-chave do filme. É difícil apontar defeitos quando nos contam uma história que realmente existiu (tirando algumas partes fictícias) e por isso é complicado dizer que x coisa podia ter sido contada de outra forma, mas a verdade é que se nota um quê de americanice escusada, mesmo quando o filme e a sua história vão precisamente focar a luta de um homem contra o sistema americano que sobrepõe os ganhos económicos à saúde das pessoas do seu país.

8/10 
(O mais normal é pelo menos um Oscar ir parar por aqui, entre Matthew e Leto, pelo menos um dos dois deve ser premiado, sendo que nos Globos de Ouro deste ano ambos saíram vencedores.)