domingo, 9 de fevereiro de 2014

[Filme] The Game (1997)


Dois anos após o lançamento de Se7en, David Fincher volta a pregar-nos às cadeiras com o mirabolante The Game (O Jogo). Tal como é costume neste realizador, somos apresentados a um mundo que desafia a nossa sanidade mental e nos deixa sem fôlego à medida que a realidade vai ficando cada vez mais distorcida. 

Nicholas Van Orton, é um milionário atormentado pela solidão. Quando completa 48 anos, o seu irmão Conrad ,(Sean Penn) decide trazer um pouco de luxúria e animação, oferecendo um cartão de uma empresa - Consumer Recreation Services - que organiza um jogo obscuro criado à medida dos participantes e que não tem qualquer tipo de regras. Céptico e sem saber onde se estava a meter, Nicholas decide entrar neste jogo doentio e vê a sua vida pacata, a ser invadida com fenómenos estranhos e um pouco macabros. Sem conseguir distinguir o que é real do que é ficção, Nicholas vê-se preso num esquema que controla tudo e todos.


Fincher capta a nossa atenção logo nos primeiros dez minutos do filme ao acelerar a história para o ponto principal. Esta estratégia impede que o espectador desvie o olhar do ecrã durante uns breves segundos porque pode perder informação crucial para entender o enredo. 
Tal como Nicholas, nós também somos engolidos naquele misto de realidade e ficção, e a nossa mente começa-nos a pregar algumas partidas. Será que aquela cena foi real? Ou foi só um sonho? 
Sem conseguirmos distinguir a validade e a lógica das coisas, damos por nós presos no Jogo e temos de ir juntando as peças para perceber como é que se pode invalidar este esquema tal como o personagem principal do filme.

Este sentimento de incerteza que, aos poucos, vai invadindo a mente do espectador, é agravado e explorado pela actuação surpreendente de Michael Douglas. Calmo por natureza e um pouco fora do seu domínio, Douglas surpreende no papel do milionário e alcança o papel de uma carreira. A sanidade mental do actor é fortemente posta à prova e isso permite alcançar várias camadas psicológicas do personagem: ironia, desespero, medo e a violência. À medida que o Jogo avança, Nicholas sofre uma grande transformação.

Tal como já é habitual, David Fincher opta por uma realização brilhante que foca o plano no personagem principal e dá ênfase a pequenos pormenores que existem no background, proporcionando a ideia de desordem e que um determinado objecto vai ter de ser utilizado mais a frente no Jogo. É uma estratégia simples mas que funciona na perfeição porque, após uma segunda visualização, percebemos detalhes que nos podiam ter ajudado a resolver o quebra-cabeças.
A música de Howard Shore (conhecido pela fantástica banda sonora da trilogia Senhor dos Anéis e vencedor de três Óscares) é subtil, confusa e só serve para nos desorientar ainda mais a cabeça. Sempre inquietante, acompanha o desenrolar dos acontecimentos e ajuda a instaurar o pânico nos momentos mais importantes.

Esta é uma longa-metragem que passa ao lado de muita gente - por ser um dos trabalhos iniciais do realizador - mas que merece a vossa atenção e acaba por ser surpreendente. É um thriller mais que recomendado.
Posto isto, desafio-vos a entrarem na mente preversa de David Fincher e a experimentarem este cenário paranóico...

9/10

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