Mais de meia década depois do bem sucedido “Taxi
Driver” ter juntado Martin Scorsese e Robert de Niro numa das suas mais
marcantes personagens, surge “The King of Comedy”, um filme que em pouco ou
nada é semelhante à longa metragem de 1976 mas que mantém algumas linhas
habituais do realizador norte-americano.
Em “The King of comedy”, Martin Scorsese volta a
usar a crítica à sociedade, desta feita pela mão de uma personagem obcecada
pela fama, na sua luta por um objetivo: ser o Rei da Comédia.
Rupert Pupkin (Robert de Niro), é um aspirante a
comediante (com uma auto-estima bastante elevada, diga-se) que tenta por todos os caminhos possíveis
atingir a fama do seu ídolo Jerry Langford
(Jerry Lewis). Ao ver constantemente negada a hipótese de falar com Jerry
acerca de uma ajuda para entrar no ramo, Rupert tenta romper no stand-up comedy por outros meios, um
pouco mais agressivos. Para isso, conta com a ajuda de Masha (Sandra Bernhard), uma fã louca e excessivamente obcecada por Jerry Langford. Dois loucos, ele com o sonho de ter o seu próprio show na televisão nacional, e ela com o único desejo de ter a seu lado o seu ídolo, Jerry.
Isto pode parecer que resulta num filme engraçado, e o título até indicar para isso mesmo, mas esta é uma longa-metragem sobre comédia que não faz (nem pretende fazer) rir. É um filme que nos deixa impacientes, por vezes
com uma certa “raiva” derivada do facto da personagem principal ser
constantemente rejeitada mas não aceitar isso. Uma atitude tão persistente que
acaba por parecer masoquista. Para quem já assistiu a outros filmes de Martin
Scorsese, é normal que sinta estranho o ritmo monótono e quase aborrecido do
filme e falta de uma "explosão" de acontecimentos. Na verdade, “The King of Comedy” não tem a tal explosão que tem por exemplo
“Taxi Driver” a certo ponto ou o ritmo alucinante do recente “The Wolf of Wall Street” ou até o mistério que envolve “Shutter Island”.
Quem vê hoje este filme de Scorsese, vê em certos
momentos o seu cunho pessoal (na tal crítica à obsessão) mas na maior parte do
filme isso passa até despercebido. Como já devem ter percebido, “The King of
Comedy” não é propriamente agradável de se ver, chega a tornar-se aborrecido e angustiante
em determinados momentos, mas é uma obra interessante que retrata um universo
complicado e não menos difícil de entrar e permanecer que o cinema ou a música.
“Better to be king for a night
than schmuck for a lifetime” é a tagline deixada pelo protagonista no fim do filme, que entrega ao personagem uma certa razão e nos faz questionar se faz falta a cada um de nós uma injecção de rebeldia e desvergonha (das que Rupert tinha em demasia).
O que vale mais, arriscar tudo
por 5 minutos no topo ou manter uma vida calma, sem grandes sobressaltos e erros, mas também, sem o prazer/sonho de uma vida?
7/10
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