quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

[Filme] Filth (2013)



"1. Sociopata – Alguém incapaz de se enquadrar nas normas da sociedade, tem habilidade para enganar pessoas, é extremamente egoísta, não se envergonha dos seus actos, não sente necessidade de melhorar porque não acredita estar errado; não sente culpa nem se arrepende dos seus actos, é geralmente maldoso e teatraliza sentimentos para impressionar os outros."

Sim sim, tirei a ideia do Pulp Fiction. Mas aos cinco minutos de filme, é nisto que revemos o detective Bruce Robertson.


Jon S. Baird não é propriamente um novato no cinema, tendo já produzido vários filmes – dos quais destaco Green Street Hooligans – e adaptado e realizado dois – Cass em 2008 e Filth de que falamos hoje. Um tema presente nos seus filmes é claramente a violência e a linguagem forte, longe de ser politicamente correcta.
Filth é, em linhas gerais, uma montanha russa entre “porrada”, “palavrões”, sexo, álcool e muita droga, aliada a uma vertente humana que começa por ser subtil mas que vai ganhando maior dimensão. A agressividade constante e o desempenho de peso de James McAvoy - que está longe de ser um actor inexperiente, mas que se destaca certamente neste filme – são o que nos deixa completamente agarrados ao ecrã do princípio ao fim.

A narrativa centra-se no sargento Bruce Robertson (James McAvoy), um detective corrupto, manipulador, intriguista e interesseiro que passa os seus dias a beber, consumir drogas e a ter sexo com prostitutas ou mesmo com as mulheres dos seus supostos melhores amigos. O seu objectivo é manipular o seu caminho até ao cargo de inspector (promoção que o seu chefe prometeu atribuir em breve a um dos sargentos) tanto para ganho pessoal como para impressionar a sua mulher Carole. Para isso usa o que chama “os jogos”, esquemas desonestos que dirige aos seus colegas, alguns deles supostos amigos de Bruce, para que estes não lhe passem à frente na corrida a inspector (dos quais destaco Jamie Bell (Ray Lennox) e Eddie Marsan (Bladesey) pelo seu excelente desempenho).


Conseguimos perceber desde o início que algo não está bem com o detective e que este sofre de problemas mentais, tendo constantes alucinações ao longo da narrativa – que só vão piorando, acompanhando a deterioração do mesmo. Percebemos ainda que este terá sofrido uma experiência traumática, pelas suas visitas ao Dr. Rossi (Jim Broadbent) que também faz aqui um papelão apresentando um novo nível de excentricidade ao filme. No meio dos muitos golpes baixos do detective, de uma aparente apatia e de muitas características de sociopata, tudo o que conseguimos fazer é rir descontroladamente. Mas esse mood não se mantém.

Tanto pela narrativa como pela performance de McAvoy (que é sem dúvida responsável pela forma crua e unapologetic como a acção chega até nós), somos obrigados a sentir todo o tipo de emoções – alegria, tristeza, desconforto, adrenalina, you name it. Não quero contar mais sobre o filme porque acho que isso ia estragar a experiência, mas digo isto: está cheio de surpresas, nunca se torna aborrecido e deixa-nos sempre a querer mais. Não é de todo uma experiência que tenhamos todos os dias, com qualquer filme que apanhemos por aí – Filth traz algo de novo e desperta em nós algo de que não estamos à espera (ou pelo menos eu não estava, quando comecei a ver o filme). Até os créditos finais estão engraçados.

Estou farta dos rios de filmes politicamente correctos e profundos, que supostamente conseguem extrair de nós qualquer tipo de conclusão filosófica que mudará a nossa vida para sempre, assim como estou farta dos – ainda maiores – rios de filmes em que há a tal “porrada” para entretenimento, desprovida de qualquer tipo de inteligência ou de uma vertente humana. Filth é o exemplo perfeito de que não tem que haver um compromisso entre uma coisa ou outra, é bem possível termos as duas. É pena que o filme não esteja a ter grande visibilidade e que a distribuição do mesmo não tenha sido a 100% (apesar de tudo, é uma produção Britânica e falta-lhe o impulso de Hollywood), no entanto espero que a sua qualidade seja suficiente para o fazer chegar ao grande número de pessoas que merece. Recomendo.


 8/10



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