Será fácil
descrever High Fidelity como a história de Rob Gordon (John Cusack), o dono de
uma loja de discos que é obcecado por fazer listas que variam desde o top 5 do
final de relações que o magoaram até ao seu top de discos preferidos.
Posto isto, é realmente simples explicar do que se trata durante quase duas
horas: música e relações amorosas, um homem que tenta entender porque correram
mal as coisas e percebe que por viver demasiado tempo a tentar explicar o
passado nunca encarou o futuro ou até o presente. Um homem que enfrenta uma crise dos 30 ou, como é referido
por uma das personagens, uma “crise existencial”.
O facto do
filme não se pegar ao óbvio de ser apenas uma longa-metragem sobre música, bandas, os meus e os
teus discos preferidos, torna-o diferente, bonito e mais real do que um fantasioso School
of Rock (onde há em comum Jack Black, que é nesta película um dos empregados da loja de
discos de Rob, a Championship Vinyl). Aqui discutem-se problemas e pensamentos que afectam o homem comum ao mesmo tempo que se argumenta se é aceitável ouvir Belle and Sebastian.
Como seria
expectável, um dos pontos mais agradáveis de High Fidelity é a sua banda sonora
romântica, alegre, melancólica e até pesada em alguns momentos. Ouvimos
The Velvet Underground, Bob Dylan, Al Green, Peter Frampton, uma
recém-nascida banda de dois rapazes skaters que costumavam roubar discos na
loja de Rob e até, como não poderia deixar de ser, Jack Black, que interpreta Let's
Get It On, do falecido Marvin Gaye.
John Cusack
é uma grande e óbvia escolha para o papel. Simples e honesto com a câmara (está
constantemente a dirigir-se ao espectador), facilmente nos faz sentir uma ligação com
o seu personagem, seja por nos identificarmos com ele como um ser perdido no meio da sua
própria vida, por sentirmos pena pelos seus sucessivos fracassos amorosos ou
até por acharmos que Rob tem um gosto musical fantástico.
Em suma,
High Fidelity não cai num buraco demasiado lamechas com uma banda sonora
fofinha, sendo que consegue ser bastante agradável e leve. Não é muito profundo nem
levanta grandes questões mas nem me parece que fosse esse o objectivo. A apontar
um público-alvo para este filme escolheria qualquer pessoa que, estando ou não
sozinha/deprimida/dumped, sabe que precisa de boa música e de um ambiente culturalmente rico
para poder ser. High Fidelity está dentro desse ambiente.
8/10
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