Blood Red Shoes (2014) - Metade elogio à banda, Metade crítica ao novo álbum
Descobri
os Blood Red Shoes cedo, assim que
eles lançaram o seu álbum de estreia, Box of Secrets, em 2008 e fiquei
estupefacta. Eu tinha 17 anos e andava a procurar novas bandas de rock
alternativo, quando descubro uma banda cheia de som e agressividade com apenas
dois membros que, pela sua abordagem à música, só podiam ser britânicos.
Faziam-me lembrar duos como os White
Stripes, com uma diferença significativa. Para mim a bateria é essencial em
qualquer género musical e algo que sempre me desiludiu nos White Stripes foi a genialidade do Jack White aleada à fraca habilidade rítmica da sua ex-mulher (que
tanto insistem em dizer que é irmã) Meg
White. Nos BRS há, sem dúvida,
um equilíbrio muito maior entre os dois membros e o contributo dos dois é
essencial.
Sempre
gostei deles porque vejo ali uma entrega total à música, são das poucas bandas
que conheço do género que não associo imediatamente a drogas e álcool – tenho a
certeza que elas andam lá, mas não é esse o elemento que se destaca.
As
suas músicas remetem-nos para uma sonoridade algo punk-rock e garage rock
associada aos anos 60 e 70, e revitalizada nos anos 90 e início do século. ADHD,
do seu primeiro álbum, é ainda hoje uma das minhas músicas preferidas e resume
tudo o que os BRS representam: rock
puro, cheio de riffs tão bem defendidos
pela guitarra de Laura-Mary Carter (que
aparece sempre nos concertos com uma blusa dos Led Zeppelin, rapariga inteligente) e uma bateria agressiva e
completamente ‘unapologetic’ pelas
mãos de Steven Ansell. Há ali um
constante ‘Estás a ouvir-me? Eu estou
aqui.’ impossível de ignorar, muito menos quando os vemos ao vivo, onde a
energia atinge o expoente da loucura, como diria o Manel Cruz. Vi-os em 2010, no Santiago
Alquimista e admito que é um dos melhores palcos para os ver. Eles têm
talento para palcos maiores, sem dúvida, e potência suficiente para se
defenderem bem contra um público de dezenas de milhares. Mas há algo na energia
de uma sala como a do Santiago Alquimista que é difícil de reproduzir
noutros locais.
Blood Red Shoes - ADHD ao vivo, Santiago Alquimista, 2010
Mas
foquemo-nos então no novo álbum, o homónimo “Blood Red Shoes”, lançado
no início do mês. Este é um álbum complexo por estar claramente dividido em
duas partes – tem 12 faixas e está ‘partido’ exactamente ao meio. Quando o comecei
a ouvir entrei em êxtase pois as primeiras 6 faixas remetem-nos para o melhor
de BRS. Os tais riffs de guitarra, a distorção, os beats de bateria que, quer queiramos ou não, puxam por nós. Existe
ali uma clara influência do tal garage
rock e são músicas como “Everything All At Once”, "An Animal" e “The Perfect Mess” (as duas últimas, os dois singles do álbum) que nos fazem comentar
o facto de não existir nenhuma banda exactamente como os BRS. É bom e é refrescante o facto de termos aqui um rock mais puro
e sem tanta influência de sintetizadores e 97 programas de edição. O que sobra
é puro e tem carisma, tem intenção: voltar às origens, voltar ao rock. Esta é
uma primeira parte cheia de energia e marca uma posição.
É
também nesta primeira parte do álbum que eles colocam uma música que nos faz
mudar de ritmo e meter os travões. “Far Away” é mais melódica e a letra
ganha aqui um impacto que não sentimos tanto nas músicas que acima referi, por
estarmos demasiado distraídos pela genialidade dos riffs e da bateria. Esta é uma faixa importante no álbum pois é um
exemplo claro que uma música pode ser mais melódica e atractiva comercialmente
sem, no entanto, cair nos ritmos e refrões demasiado repetitivos. É mais
comercial, sim, mas continua relevante e inovadora.
E
para mim, o álbum podia terminar aqui, ficava curto mas bom. É sempre mau
quando metade do álbum não tem grande qualidade, mas quando é a segunda metade
é ainda pior, pois é suposto haver uma evolução, consistência no alinhamento e
um clímax mais para o final, o que aqui definitivamente não acontece.
Toda
a pujança e agressividade inicial acabam por se perder algures entre as últimas
6 faixas. Os ritmos tornam-se cada vez mais repetitivos, simples e afáveis, como
se a banda tivesse ficado com medo de alguma coisa. Acho que para quem ouve o
álbum, o sentimento geral é de confusão.
No
entanto, “Speech Coma” ainda tem réstias da primeira parte do álbum e as
qualidades do costume andam por lá. Vale a pena ouvir. Já “Cigarettes in The Dark”
e “Tightwire”, que encerram o álbum,
para mim são pura e simplesmente de ignorar. Não quero ser demasiado dramática,
e aconselho vivamente que oiçam o álbum na sua totalidade e que cheguem às
vossas próprias conclusões. Mas eu já o ouvi – todo – seis ou sete vezes e a
minha opinião ainda é a inicial.
Blood Red Shoes - Speech Coma
Dito
isto, esta é uma excelente banda e tem, sem dúvida, um lugar muito próprio na
cena musical. Pode não nos tocar a alma como Pink Floyd faria, mas transmite-nos
energia e irreverência e é uma semente do rock e da direcção em que devíamos seguir.
É uma lufada de ar fresco cheia de energia e intenção, que nos lembra que,
muitas vezes, precisamos de mais agressividade e fogo nas nossas vidas.
Perderam um dos factores que eu gostava mais nos albuns até agora: Guardar o melhor para fim. Nesse aspecto, o "Fire like This" e o "In time to voices" são um exemplo a seguir porque vão melhorando a qualidade até chegar à ultima música. Se nestes dois CD's tinhamos "Colours Fade", "Sulphites" e "7 Years", o mesmo não se verifica no album lançado este ano.
ResponderEliminarA euforia das primeiras faixas desvanece muito rapidamente à medida que o tempo progride, o que resulta numa quebra de rendimento. Acho que regrediram e prefiro o EP que antecede este novo trabalho.